terça-feira, dezembro 27, 2011

a folha

Um dia um réptil rasteiro partiu um coração. Tornou-se fantasma de afectos quebrados abruptamente. Tornou-se transparente, mas não cristalino. Uma memória leitosa de bons momentos tornada opaca pelo resultado. O mundo virou-lhe as costas no momento em que pôs um ovo. Cavou mais fundo a sua toca e escorregou para onde sabia merecer. Ficou no escuro… não houve lágrimas por saber quem era, se as houvesse sabia serem incontornavelmente de crocodilo. Secou. Cresceu. Engoliu. Esqueceu (mentira). Saiu.

Visitou outra toca à pouco tempo e encontrou uma música que imaginou ser para si (mesmo que não fosse). Sentiu-se fantasma outra vez… olhou à volta e a toca era branca, não era definitivamente a sua… sentiu-se mal por se sentir tão bem e por isso voltou para trás.

Não foi capaz de deixar um desenho. Não foi capaz de escrever um poema. Deixou a folha (que era a toca) em branco.

3 comentários:

Kaos disse...

Sei que os tempos não estão para grandes optimismos mas o futuro pode estar nas nossas mãos se soubermos exercer os poucos direitos que ainda nos restam. Aqui deixo o meu desejo de um 2012 tão bom quanto o possível.
Kaos
Wehavekaosinthegarden.blogspot.com

Mig disse...

Um abraço! Para 2012 escolhemos só o que queremos e chamamos-lhe bom... só porque sim.

m disse...

Tu não tens vergonha nenhuma..