quinta-feira, setembro 13, 2007

Um tempo que passou

Vou
uma vez mais
correr atrás
de todo o meu tempo perdido
quem sabe, está guardado
num relógio escondido por quem
nem avalia o tempo que tem

Ou
alguém o achou
examinou
julgou um tempo sem sentido
quem sabe, foi usado
e está arrependido o ladrão
que andou vivendo com meu quinhão

Ou dorme num arquivo
um pedaço de vida
a vida, a vida que eu não gozei
eu não respirei
eu não existia

Mas eu estava vivo
vivo, vivo
o tempo escorreu
o tempo era meu
e apenas queria
haver de volta
cada minuto que passou sem mim

Sim
encontro enfim
iguais a mim
outras pessoas aturdidas
descubro que são muitas
as horas dessas vidas que estão
talvez postas em grande leilão

São
mais de um milhão
uma legião
um carrilhão de horas vivas
quem sabe, dobram juntas
as dores colectivas, quiçá
no canto mais pungente que há

Ou dançam numa torre
as nossas sobrevidas
vidas, vidas
a se encantara se combinarem vidas futuras

Enquanto o vinho corre, corre, corre
morrem de rir
mas morrem de rir
naquelas alturas
pois sabem que não volta jamais
um tempo que passou

(Ou dançam numa torre...)

(Enquanto o vinho corre, corre, corre...)

Música: Sérgio Godinho
Letra: Chico BuarqueI
n: "coincidências" 1983

E passa sempre o tempo e para mim passou. E cada vez mais passa e cada vez mais estou consciente que passa e que passou e que muito ficou e que já não chegará e que não chega e que não volta para trás e o cliché que isto é… mas é sério, é grave e não tem solução. E o vinho corre, corre, corre…. E escorre-me dos lábios para fora porque é muito e não é demais, mas a boca é pequena, não dilata, engasga-se e deixa que se absorva na camisola que não tem culpa e espalha-se no chão… em segunda mão. E olho para os tijolos da minha parede e estão mal dispostos e mal dispostos e apetece-me que se partam e que surjam novas paredes, mas surgirão também tortas, mas serão outras, CONVULSÃO!! Onde está o arquivo? Qual é a gaveta? Onde está escondido?

Lambo sofregamente o vinho do chão. Acabaram-se as férias.

E vou tirando devagarinho as teias de aranha

5 comentários:

Haddock disse...

f...-..!!
que regresso magnífico!!
pelo menos, para quem te lê, estimado crocodilo!!
força e um abraço!!

Anónimo disse...

A propósito da (bonita) banda sonora:
Quero os dias que passaram sem mim
Os que não vivi, não saboreei
Será que foram muitos?
Quero os dias que não me trouxeram um cheiro diferente, uma cor mais bonita
Será que voltam?
...
A propósito do regresso (sofrido):
Um brinde às férias e ao vinho onde afogas o tempo.. maldito.. que não volta.

(Sofia)

Little Miss Starlight disse...

Fico contente por teres voltado...**

dona da folha disse...

Life holds one great but quite commonplace mystery. Though shared by each of us and known to all, seldom rates a second thought. That mystery, which most of us take for granted and never think twice about, is time.
Calendars and clocks exist to measure time, but that signifies little because we all know that an hour can seem as eternity or pass in a flash, according to how we spend it.
Time is life itself, and life resides in the human heart.
MOMO - Michael Ende

beijinhos

Haddock disse...

...
também concordo!

mas desta vez atrevi-me só para te dizer, estimado crocodilo, que já estás assim chateado há uma semana...