terça-feira, maio 15, 2007

Highway Fortune Teller.

Supondo que os carros com que nos cruzamos (os seus passageiros, leia-se) são conhecedores do nosso futuro próximo com um intervalo de tempo tão reduzido quanto a distancia a que se situam em relação a nós. E o mesmo se passa connosco em relação a todos os que se cruzam na direcção oposta.

O pequeno e inútil poder de saber se ficarão parados mais adiante, se a paisagem vale a pena, se chove, se neva… Chega a ser o conhecimento ingénuo do viajante que está quase a chegar e os imagina ainda a partir. Ou acabado de partir.

Destinos opostos e paralelos como tantos outros que se cruzam em outras tantas auto-estradas reais ou virtuais nas quais podemos rolar fechados na nossa faixa mantendo-nos à espera que o infinito se junte como nos diz a matemática que tem tudo de exacto menos o que é demasiado longe. Ou fazer com que as linhas se toquem, os pequenos conhecimentos futuros se partilhem e que dos acidentes das trocas surjam novos caminhos e se tracem novos futuros.

Ideia corrompida esta do futuro, pode-se argumentar. Uma fracção de segundo depois já é passado. Verdade… Mas que piada tinha este raciocínio se o passado fosse passado. Porque não sonhar com pequeninas e insignificantes visões do futuro. Pode ser que de tanto sonho sonhar, algum se realize.













“Dá-se com os longes o que se dá com o futuro. Todo um mundo vago se abre à nossa alma, a nossa sensibilidade perde-se nele como o nosso olhar, e nós aspiramos, ah, a entregar todo o nosso ser, para que a volúpia de um sentimento grande, único, majestoso o encha completamente. - E, ai de nós, quando para lá corremos e o ali se torna aqui, tudo continua como dantes, e nós ficamos com a nossa pobreza e as nossas limitações, e a nossa alma suspira pelo conforto que lhe escapou."

Johann Wolfgang von Goethe, in “Werther”

3 comentários:

Little Miss Starlight disse...

"Pode ser que de tanto sonho sonhar, algum se realize". Convém acreditarmos nalguma coisa, não é...?

"Nossa alma suspira pelo conforto que lhe escapou". Acabaste de descobrir o que faço na tal posição desconfortável da espera...

Mig disse...

Nunca convém acreditarmos em alguma coisa e digo acreditar no todo, completo, sem dúvidas nem questões. Leva-nos a dogmas, a enganos e muito provavelmente... a lado nenhum.

o teu problema, minha cara estarlaite... não é esperares... é esperares por não saberes o que procurar.

P.S. Eu não uso alma (não encontrei uma que me ficasse bem)... e não suspiro... procuro.

Mas é só o meu mau feitio

Little Miss Starlight disse...

Já tenho saudades de quando me davas na cabeça e me deixavas a pensar... :)**