Feliz… Maria

Convidei a Maria, minha colega de escola. E ela veio, bateu, eu abri a porta branca. Ao princípio da tarde, com o sol entrou o céu inteiro através da janela grande… no telhado. Ela admirou-se e foi até à minha cama feita de malas, e cheirou o tapete castanho que estava estendido… por cima. Pus finalmente água ao lume para… o café. Faltava-me o leite que a Maria queria. Saímos juntos, não fechei a porta à chave, confio nos meus vizinhos. Descemos cinco andares até chegarmos ao portão da casa. Dobrámos… a esquina e estávamos à porta ainda aberta da loja com especialidades dos Balcãs, onde começámos por comprar meio litro de leite para o café. Na loja estava escuro por causa dos legumes cobertos de terra e das tábuas e dos caixotes, o reino do tio severo, que dava ordens ao sobrinho, um homem jovem. O sobrinho vendia de manhã à noite batatas, tomate e maçãs, cebolas também, e cheirava a cebolas. Estava na loja e estendia os braços compridos, e quando um cliente pedia ao tio severo na caixa os pistácios que estavam no caixote atrás do telefone na sombra, o sobrinho estendia o braço e pegava logo na mercadoria com a mão esquerda, reagia antes do tio severo e enfurecia-o, pois este tinha de se levantar para chegar ao caixote distante. Quando a Maria o viu, parou-se-lhe a respiração, e eu tive de a agarrar pelos ombros e de a abanar. Não conseguia respirar, eu levei-a lá para fora e segurei-a. Amo aquele homem, disse-me ela. Quero ser a mãe do filho dele. Ajuda-me. Peguei-lhe nas mãos e pu-las uma sobre a outra. Maria, disse eu. Maria deu um salto e entrou na loja. Pediu meio litro de leite e convidou o sobrinho para tomar um café com leite. Acalmou o tio… comigo, Ele é o meu noivo, estamos noivos e não queremos fazer mal nenhum ao seu sobrinho. O tio deu licença ao sobrinho para ir passar o fim da tarde connosco. Despedimo-nos com cortesia do tio e ficámos contentes à espera do sobrinho. Maria abriu a porta, atravessou… a sala e deixou-se cair na minha cama. Eu deitei o leite num fervedor e pu-lo em cima do frigorífico junto ao fogão. A água para o café tinha-se evaporado. Voltei a pôr água na panela. A Maria estava junto à parede do lado sul, à frente das três janelas pequenas, e falou das rosas secas que na altura estavam penduradas por cima daquelas janela, pôs-se a cheirá-las. Eu tinha secado aquelas rosas há meses, por altura do Natal, foram mandadas de Berlim e não duraram muito, eram amarelas e ficaram logo naquela noite de corola caída, eu pendurei-as então viradas para baixo, e deixei-as secar, dez… rosas. A água para o café tinha-se evaporado. Voltei a pôr água na panela. Eu queria falar dos tempos da escola, a Maria perguntou pelo café, deitou umas colheres de café na água. O sobrinho subiu. Bateu, eu abri a… porta branca. Trazia figos que amassou para ficarem mais doce, Bebemos café. Ele perguntou pelos nossos anéis. Eu retirei-me. A Maria estava fértil, o tapete estava hoje posto para trás como sinal. Comecei a tremer de frio com uma intensidade que ainda não conhecia, o que me fez rir, e voltar a aquecer. A Maria telefonou, depois apareceu. Bateu, eu abri a porta, ela estava… feliz. Bebemos água. Ela pegou-me nas mãos. Ele chamuscou-me, estou em brasa, vou evita-lo ainda durante umas semanas. Depois compro tudo e mais alguma coisa.

HÄNDL KLAUS (Legenden).1994. Trad. Vera San Payo de Lemos