terça-feira, março 20, 2007

Delirio Primaveril


BOTICELLI, S.
Primavera (detail)
c. 1482
Tempera on wood
203 x 314 cm
Galleria degli Uffizi, Florence



Estamos na Primavera, ou melhor, falta um dia mas eu antecipo-me aproveitando o facto de estar a curtir uma trip entre sinapses de reacção química e efeito placebo. (algo me diz que a verdadeira banha da cobra surtia melhor efeito). E podia falar das flores e dos pássaros e das árvores e do verde, mas disso todos sabemos… vai ser bonito… (a banha da cobra provoca demasiadas ideias e uma incompatibilidade tremenda para quem nunca foi capaz de ser organizado e este texto adquire trejeitos de surrealismo, não pelo seu valor mas pela sua desorganização). Mas tento. E é assim:

E começou o encanto, a maneira que a Natureza encontrou para nos compensar do frio e da chuva. E eu feliz a ver. E renovamos paixões, com tudo o que têm de bom e de mau, porque é primavera e o mau parece sempre menos mau. Eu, pelo menos trabalho mais, aumento a produtividade (pois claro), gasto mais, amo mais, bebo mais (comovo-me demais, como diz o Fernando Lopes) e até os pólenes me parecem mais amarelos e mais belos no meio das dores de cabeça que me provocam.

E encontro velhos hábitos apaixonados de copos conversas e tunas, que acabam em amores surdos e contactos inexistentes… mas que nunca acabam… e sempre começam e recomeçam melhor ainda e me fazem sentir privilegiado, com sorte… e tenho muita sorte… e é Primavera.

E queria hoje estar noutro lado, enrolado numa cobra que me apertasse até que morresse sufocado…. Mas noutro lado não é primavera… E tudo deixaria de fazer sentido sem as flores e as cores e o pólen amarelo… Mas posso esperar que se esgote o Oceano e que dois continentes se toquem (não é pedir muito na Primavera) e assim o outro lado passava a ser deste lado… mas só aquele que me enrolasse e esmagasse e sufocasse. Que me tirasse o sono e o sério, e me baralhasse (tal como a banha da cobra). Mas será que vêm? Cá JÁ é Primavera!

E queria ter tido coragem para escrever sobre as flores e as arvores e o verde… Mas tenho medo que a primavera seja ela mesma a minha banha da cobra… o verdadeiro efeito placebo que se confunde… e cruzo assim a linha do que é real, lógico e compreensível para quem poderá alguma vez ler o que foi aqui escrito (redundância das redundâncias, se chegou aqui é porque já leu).

E ainda falta um dia para a Primavera.

2 comentários:

Anónimo disse...

Neruda

"Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe. Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade."

e é primavera (...aí).

Anónimo disse...

Cada vez mais me convenço que és verdadeiramente marado da corneta!